Ser feliz é aceitar as desventuras da vida, sabendo que virá um esboço de sorriso algures largado por ti, pelo momento.
Ser feliz é aceitar que a gargalhada não pode ser eterna, para se poder ser feliz. Terei de me conhecer e conhecer o rosto da infelicidade para ser feliz.
Ser feliz é aceitar um rasgo de saudade, de tristeza, de luto, mas sempre com minutos contados no relógio da vida, sem tantos que sobram.
Ser feliz é aceitar a beleza da chuva e sentir a hidrofília em forma de gotas a rolarem pelo corpo, e atentar vislumbrar o arco-íris a cortar o firmamento carregado de cinza.
Ser feliz é aceitar que um dia tudo finda, que nada é perene, sabendo agarrar o pensamento sobre a probabilidade de nossa existência infinitamente próxima do impossível.
Ser feliz é aceitar que não somos imortais, mas podemos deixar a eternidade na vida dos outros. A eternidade pode viver e eu viverei eternamente. As minhas obras são a perpetuação do meu ser.
Ser feliz é uma escolha. Somente uma escolha. Somente.
Quero despir-me de mim. Cansa-me este sentir infetado.
Não vejo luz. Sinto tanto a cicatriz da lesão nunca nascida. Será puro suborno quando em sopro te exponho que a lesão não foi parida? Autoinfligida?
Porque me atrai, como polo aposto, a confusão, o complexo? Para ficar perto do impossível?, para me distanciar de uma ténue possibilidade da aproximação do diferente meio desconhecido?
Esta observância pela minha obsessão por pessoas intrincadas com a complexidade é o meu modo eterno de me afastar delas?, estando sempre em segurança, alheada da divisão, da dívida que viria se fosse um tanto de inverso.
Infeto a possibilidade de revezamento do meu caminho, assim que escolho quem escolhi. Armadilho as relações, para as nunca tornar relíquias, porque nunca existiram. Só em mim. Mas trazem-me angústias, porque parece querer com todas as minhas forças já armadas derrubar o presente para salvar o premente futuro.
Sinto tanto que perdi o que não tive. Que significação se poderá dar a este não saber estar neste meu único estar infetado?
Sempre na incerteza. Entre agora e o já agora. Entre agora e
um tanto de tempo que nunca mais se abeira. Sempre na incerteza.
Comunico contigo e nada me entendo.
Perdida fico, na periferia do vazio que resta entre as palavras não proferidas.
Perdida pela mensagem que nunca recebi.
Perdida pela mensagem que recebi, mas nada diz, simplesmente
um decreto de cordialidade.
Cordialidade é melhor do que minimidade, pensa ou penso que
pensa.
Anuência gentil, cavalheiresca emojizada é muito para quem o diz? Se assim for, não há muito a
dizer ou há travo no dizer? Há refreio no dizer para não fazer sofrer quem não
sabe, mas que no condicional sofre? Há amordaço no dizer para não fazer sofrer
quem lê a aquiescência?
Será:
a maioria do vazio, do vácuo (que não é o nada!) comunicado,
é, neste caso, sinónimo de nada para dizer?
umas quantas vezes
para não ter que deixar de ser verdadeiro e deixar de lado a complacência? outras tantas, para não ser infiel a quem existe mais no coração do que na vida
vivenciada?
Envio o que pensei que poderia ser conversa. Silêncio
recebido, nada reclamado entre sol que pisei assim que o ouvi.
Envio o que pensei que poderia ser conversa. Desta vez, foi
um sopro de conversa, mas tão fugidia que parece querer fugir. Quem foge quer
fugir? Ou, quem foge não sabe como ficar?
Respostas fugidias são sinónimas de fuga da pessoa com quem
se conversa?
Respostas fugidias são sinónimas de fuga da possibilidade de
traição platonizada? Consegue haver traição platonizada sem paixão platonizada
por essa pessoa? Confuso. Intranquilo.
Intranquila!
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
O sonho da tua presença ocupa espaço deixado pela vastidão
da saudade largada pela distância da tua presença. Hiatos em mim ficam
intumescidos pelo sonho até quase preenchidos, mas quando resvalo para a descrença
decaio até inflamação já caquética.
"Oiço
lana! Só podia estar a ouvi-la para não mais escutar o eco do desfolhar das
memórias que quero esquecer.
Oiço lana! Só podia estar a ouvi-la para reter o
aprazível de te ter em mim.
Parece que a minha retina ganhou memória, e
O teu último sorriso contido no teu olhar ficou retido
em mim…
Este cenário não é ficção idealizada. Este cenário não
é capricho das divagações. Este cenário não é devaneio tão desejado.
É memória! É memória! Que nem precisa de ser
engavetada, pois está sempre a ser recapitulada.
Mas, também, posso dizer: é apenas memória - de
momentos que se esvoaçaram no espaço temporal.
Óóhh!! Que digo eu! (entrego-meao doce engano que tanto me afaga os
devaneios em desânimo), se sei que a memória copia o poder da matéria no
espaçotemporal. faço da memória o que faço com os meus átomos. Posso mudar
tudo, e trago o passado para o presente, e o lá para cá….e perpetuo….
O tempo e espaço têm uma relação de reciprocidade
indivisível- é de senso comum, bem sei. Como também é sabido que a matéria
deforma a curva espaço-tempo. Mas para mim, o intrigante épensar sobre o pensamento, em registo de
memória, integrado e articulado no espaço-temporal, como se de um uno, também,
se tratasse. Quando estou entregue às memórias, sem já estar de corpo presente
no espaço-temporal em que estive contigo, sem ter a matéria a estabelecer os
parâmetros, como posso mudar os eixos? A verdade é que mudo os eixos. A verdade
é que mudo os parâmetros. Se quero esquecer o eu no espaçotemporal, consigo
alarga-lo ou estreitá-lo, conforme o masoquismo do momento. Se quero lembrar o
eu no espaçotemporal, consigo, sempre, alargá-lo. Sempre.
agoraaqui estou eu - e reparem que mais uma
vez o espaço e tempo estão contíguos, a partilhar a mesma linha- a relembrar o
ontem, em que já lá não estou, mas mesmo assim a ordem de sucessões e de
coexistências as faço transmudar.
A memória copia o poder da matéria na linha
espaçotemporal? Átomos que coabitam no espaçotemporal, é inteligível que tenham
comportamentos promíscuos e todos se toquem e se deixem ser tocados. Mas a
memória não é materializada ea verdade
é que estou contigo eternidades…e longe de ti eternidades…..(e o perto/longe tornam
a partilhar o mesmo leito da eternidade) ……
Enfim, penso. Não!; permitam-me a correção desta afirmação inconsistente: enfim,
penso pois nada sei, - pois é sabido que o pensamento sendo um mecanismo de penetrar no
desconhecido, uma forma de trazer algo para a tela mental , é sinónimo de ignorância.
Só sei que o teu último sorriso contido no teu olhar ficou retido em mim…"
o que em ti é estranheza para mim, faz-me martelar em forma de
indagações reiteradas com finitude longínqua, mas faz-me, também, palpitar e
prolongar-me o entusiasmo e o desejo retumbante.
o tempo não perdoa, mesmo que supliquemos que espere um pouco, que se
retenha um pouco, que nos permita comprazer com o que não temos sempre. o tempo
é constante, mas a saudade por ti - há quem diga, a saudade de nós
próprios, o amor-próprio, quando junto a outro - nega-me esta constante e fica
a perceção de ab initio do infinito.
a saudade deixa-me suspensa no que foi, no
que queria que fosse, no que deveria ter sido. a saudade fratura-me a vontade
de desejar apenas o que é.
sempre preferi esta angústia dilacerante, porque me permite ter
esperança. esperança do quê, não sei. nunca soube. talvez, esperança de
continuar a sentir o palpitar, o entusiasmo e o desejo retumbante,ad ephesios.
Esquecimento do que
fui, contigo, enquanto a serenidade residia em mim. A meta para a serenidade
é deixar de ser quem sou.
A brisa sentida nos corpúsculos
de Krause açoita-me a alma como brasa e faz esvoaçar-me os pensamentos ainda
não olvidados.
Não sei se me queres. Não
sei se não passo de passatempo. Certa estou que há uma clivagem largamente
mirada entre os nossos quereres. Vislumbro o vazio. O vazio deixado aqui em mim, por
não agires. O vazio no teu olhar. Só opacidade!, vejo. Opacidade sem
brilho. Vazio. Porque quero eu, então, o vazio que há em ti? Não sei
porquê. Só sei que continuo a querer contemplar o teu olhar, mesmo que repleto
de vazio.
Mais certa estou, pois
mais certo é, de não queres fazer parte de escândalos. Não queres ser emblema em
tema. Sabido é que, os escândalos
dos outros soam a novidade que ocupa mentes e traz tema sem lema e com emblema.
Sabido é que, os nossos escândalos nunca nos entrelaçam no encanto e espanto.
Eu desejo-te ou desejo
tanto este desejo (nunca soube a diferença, como sabeis!) que me disponho a escândalos.
Quando junto a ti, tudo passa a pormenor. Tudo passa a resto.
Nunca vos pedi a opinião, mas vocês dão-na. Mas claro está, não a mim, porque
nunca a pedi e mais confortável para vós, até, dão-na ao mundo sem mim. Assim,
podereis dizer o que desejardes, porque não me têm para refutar, ou, só, argumentar.
Não vos censuro! - também, vos ofereci em forma de opinião os meus juízos de
valor. E mais injuriosa sou, pois os meus juízos repudiavam nos outros o que
penso hoje em cometer.
Opiniões!...
Por vezes, as opiniões distorcem a verdade,
sempre tão escorregadia, pensando na verdade como a vivida, vista e sentida no
plano real.
Se quereis reconstruir a verdade, solicita
todas as versões aos actores. Assim, estarás mais próximo do cenário realista
da realidade, da verdade que, provavelmente não querias ouvir. Assim, filtras o
teu portador da verdade e tens o teu gerador da verdade - o estado dos factos. Assim,
estarás mais próximo da verdade que me desculpabiliza.
Em rol de maldizeres, nunca perguntaram pela
minha versão da minha verdade. E sei o porquê. Porque a verdade, - verdade seja
dita! -, é o que cada um quer que ela seja. Subjugamos a verdade ao que queremos da sua essência na nossa essência. A verdade pode ser útil. A verdade
pode ser mais interessante. A verdade pode ser um bálsamo. Cada um escolhe e
crê na verdade que mais se aproxima ao que deseja que ela seja e não ao que é. A
verdade é que, escolhemos os geradores de verdade como os nossos mais apreciáveis
verazes, mas, nem sempre verdadeiramente confiáveis. Contrassenso? - Não! É
sabido da invariância da verdade, dependendo, até, de quem se quer sentenciar à
injuria.
Uma verdade vos digo: não sou honesta
para mim, porque não sei como se faz. Serei um ser não verdadeiro, porque não o
posso ser, e criei um ser postiço, longe da minha própria natureza
ditosa, copiosa, e …. odiosa. Odiosa por mim própria. Mas não sei ser este meu ser de outra
forma.
Eu: oiço-te. Mas oiço sempre metade. Não oiço o que proferes.
Oiço a minha imaginação e ela pouco espaço dá para te
escutar, como qualquer um merece. Vou-me perdendo na contemplação do teu rosto. Pego na
conversa a meio. Pego na conversa no fim.
Sinto-me pouco eu, perto de ti.
Com rosto impassível, conversas.
Eu: respondo. Mas respondo sempre metade. Não respondo o que
queria proferir. E quando o faço parece que tenho de medir a dimensão das
palavras que conseguiram ganhar espaço neuronal. São poucas as palavras que
ganharam espaço.
Em discurso a roçar o gélido, com postura inquebrável, no
entanto, tens valores morais infrangíveis e apreciáveis, pouco comuns.
Sinto-me pouco eu, perto de ti.
Sinto que não me deixo conhecer. Não me deixo conhecer
porque não me deixas dar a conhecer? Parece nascer indiferença em ti quando
falo em mim. Não me queres conhecer?
Quero estar perto de ti, mas estranhamente sinto-me muito
pouco eu, porque acho que não te interessa o meu eu. Penso, que, também, porque me sinto avaliada.
Não julgar antes de conhecer! - Mas julgamos sempre. E
conhecer? - Nunca conhecemos! Se assim é, porque divago eu.
Quando chego a este espaço, a este mesmo espaço, tão exíguo
sem ti, sou invadida pela amargura de não te ter segredado os meus sonhos, de não te
ter falado sem freios. Faço-o em multidões e não o faço contigo.